No final do ano de 2005, uma enorme nuvem negra, capaz de ser vista do espaço sideral, se espalhou pelo sul da Inglaterra e viajou através da Europa por dias, sendo causada pelo maior incêndio que esse continente sofreu desde a II Guerra Mundial. Foram necessários 5 dias até que as chamas desse incêndio fossem completamente extintas[1]. Apesar de mais de 10 anos terem passado, as informações provenientes do acidente de Buncefield ainda são muito relevantes na prevenção de acidentes catastróficos similares.


Figura 1 – Incêndio de Buncefield em 2005. Fotografia: Peter Macdiarmid/Getty
No final do ano de 2005, uma enorme nuvem negra, capaz de ser vista do espaço sideral, se espalhou pelo sul da Inglaterra e viajou através da Europa por dias, sendo causada pelo maior incêndio que esse continente sofreu desde a II Guerra Mundial. Foram necessários 5 dias até que as chamas desse incêndio fossem completamente extintas[1]. Apesar de mais de 10 anos terem passado, as informações provenientes do acidente de Buncefield ainda são muito relevantes na prevenção de acidentes catastróficos similares.
O incêndio foi causado por uma série de explosões iniciadas no dia 11 de dezembro de 2005 no depósito de armazenamento de petróleo de Buncefield, em Hemel Hempstead, Hertfordshire, na Inglaterra. O site era de importância estratégica para a distribuição de combustíveis para Londres e o sudeste da Inglaterra e era o quinto maior distribuir de combustível do Reino Unido. O acidente teve início com a ignição de uma nuvem explosiva causada pelo vazamento de 250.000 litros de petróleo de um tanque de armazenamento[1]. A explosão pôde ser escutada a milhares de quilômetros de distância, chegando a magnitude de 2,4 na escala Richter[1]. O acidente não gerou fatalidades, mas lesionou 43 pessoas, além de destruir significantemente casas e construções próximas, paralisar estradas, gerar a evasão de cerca de 2000 pessoas e provocar contaminação ambiental na região[2]. Essa situação só não foi provavelmente pior pelo fato da explosão ter ocorrido em um domingo de manhã, quando a área industrial próxima estava relativamente vazia[2].


Figura 2 – Localização de Buncefield, na Inglaterra. Fonte: Google Maps
Na noite anterior ao acidente, o tanque de armazenamento 912 da Hertfordshire Oil Storage Limited (HOSL) estava sendo preenchido por petróleo, quando suas duas formas de controle de nível falharam: o indicador, que permitia o monitoramento do nível pelos funcionários, e um interruptor de nível alto independente, que deveria parar as operações automaticamente caso o tanque fosse sobrecarregado. Com essas falhas, os alarmes não funcionaram e a sala de controle não foi alertada quanto ao nível do tanque alcançado. Assim, ocorreu sobrecarga e vazamento de petróleo pelo topo do tanque, levando a formação de uma nuvem explosiva e do incêndio, que destruiu a maior parte do site. A operação total de combate envolveu 1000 bombeiros de Hertfordshire e de todo o país, apoiados pelas forças policiais de todo o Reino Unido[2].
Diversas situações técnicas foram responsáveis por esse acidente:
- O indicador de nível estava constantemente sofrendo paradas desde que o tanque voltara a funcionar em Agosto de 2005 e os gestores e contratados não responderam efetivamente a essa ausência de confiabilidade do sistema;
- O interruptor de nível precisava de um cadeado para funcionar apropriadamente, mas o fabricante não comunicou esse ponto crítico para os funcionários do site;
- As paredes do dique de contenção e os sistemas de dreno e captação também falharam, devido ao projeto e manutenção inadequados, liberando poluentes do combustível e dos líquidos de combate a incêndio para fora do site e contaminando lençóis freáticos.


Figura 3 – Como a nuvem explosiva se espalhou no site no acidente de Buncefield. Fonte: BBC
A violência da explosão do acidente permanece, no presente, apenas parcialmente explicada. Isso porque os níveis de sobrepressões gerados foram muito mais altos do que o esperado em uma explosão em nuvem. Uma explosão pode ser produzida quando uma nuvem de gás é inflamada dentro de um volume confinado, como um prédio, por exemplo. Entretanto, este mecanismo não explica o tipo de explosão que ocorreu em Buncefield, já que a maioria da nuvem era não confinada[2]. Investigações científicas estão sendo conduzidas até hoje para tentar explicar o mecanismo dessa explosão.
Toda a investigação do acidente de Buncefield foi realizada pela Health and Safety Executive (HSE), órgão do governo da Inglaterra, que gerou relatório composto de dois volumes e um material com recomendações em 2008[2]. Além desses, um relatório com estudo preliminar sobre o mecanismo da explosão foi realizado pela Steel Construction Institute para a HSE em 2009[4].
Cinco firmas foram sentenciadas, em 2010, devido à explosão: TVA Enginering, Hertforshire Oil Storage, Motherwell Control Systems 2003, Total UK Limited e British Pipeline Agency Limited. Tanto a TVA quanto a Motherwell foram ditas culpadas por falhar na proteção dos trabalhadores e da comunidade[1]. Já as empresas Hertforshire e British Pipeline Agency Limited foram culpadas por falhar na prevenção de acidentes maiores e de não limitar os seus efeitos para as pessoas e meio ambiente, além de causar poluição nas águas controladas no entorno de Buncefield[1]. A Total UK Limited, que operava Hertforshire, foi culpada por essas duas últimas acusações bem como por falhar na proteção dos trabalhadores e da comunidade[1].
Esse acidente serve para lembrar importantes aspectos do gerenciamento da segurança de processo que os negócios sujeitos a grandes perigos devem ter:
- Deve-se ter um claro entendimento dos riscos de acidentes maiores e dos equipamentos e sistemas críticos de segurança projetados para controlá-los;
- Devem existir sistemas e uma cultura de segurança no ambiente para detectar sinais de falha de equipamentos de segurança crítica e para responder a eles rapidamente e efetivamente;
- Tempo e recursos para a segurança de processo devem estar disponíveis;
- Deve haver uma auditoria efetiva dos sistemas que teste a qualidade do sistema de gerenciamento e garanta que esse sistema esteja de fato sendo usado efetivamente
- No centro da gestão de um certo negócio, em que haja grandes perigos associados, deve haver uma liderança em segurança de processo que envolva a todos, incluindo a alta liderança, como os diretores, e que tenha a competência de garantir que os riscos de grandes perigos sejam propriamente geridos em um PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos) robusto.
Referências Bibliográficas:
[1] Control of Major Accident Hazards (COMAH). Buncefield: Why did it happen?. The underlying causes of the explosion and fire at the Buncefield oil storage depot, Hemel Hempstead, Hertfordshire on 11 December 2005. HSE 2011. [2] Buncefield Major Incident Investigation Board. The Buncefield Incident. 11 December 2005: The final report of the Major Incident Investigation Board. Volume 1 e 2. HSE Books 2008. [3] The Guardian. Buncefield companies fined £5.35m for oil depot blaze. UK News. Fri 16 Jul 2010. [4] Buncefield Explosion Mechanism. Phase 1. Volumes 1 e 2. Steel Construction Institute. HSE Books 2009.
Autora: Caroline Riccio, Consultora Jr de Engenharia Química da RSE Consultoria, sob supervisão do consultor sênior, Antonio Petersen.