Você sabe o que é efeito dominó? Já ouviu falar?
Desculpe, mas, a pergunta que não quer calar? Será que a sua unidade produtiva está tomando todos os cuidados devidos para prevenir eventos que possam desencadear um efeito dominó?
Então, existem várias interpretações e definições para o fenômeno conhecido como efeito dominó.
A definição proposta pelo AIChE – CCPS (American Institute of Chemical Engineers – Centre for Chemical Process Safety) é considerada abrangente e descreve o fenômeno como:
um incidente que começa em um ponto e pode afetar pontos próximos (por exemplo, recipientes contendo materiais perigosos) por impacto térmico, de explosão ou de fragmento1.
Enquanto a Diretiva Seveso II é considerada restritiva e os autores que utilizam esta definição consideram efeito dominó um acidente que ocorre em uma indústria e afeta outra adjacente ou próxima, a Diretiva Seveso II trata o efeito dominó como:
estabelecimentos ou grupos de estabelecimentos em que a probabilidade e a possibilidade ou consequências de um acidente grave podem ser aumentadas devido à localização e à proximidade desses estabelecimentos, e seus inventários de substâncias perigosas2.
O autor Delvosalle define o fenômeno como:
uma cascata de eventos relacionados em que as consequências de um acidente prévio aumenta no espaço e no tempo gerando um grave acidente3.
Independente da definição adotada pelas empresas ou pesquisadores, efeito dominó é caracterizado pelo aumento da consequência ou severidade do acidente a medida em que a cadeia de cenários de acidente prossegue4.
O efeito dominó pode ser classificado em duas categorias:
- Pelo tipo de instalação: primárias e secundárias afetadas;
- Pela natureza dos efeitos: físicos primários e secundários produzidos.
Quanto aos tipos de instalações sujeitas ao efeito dominó, as principais são as que trabalham com tanques de armazenamento sob pressão, tanques de estocagem atmosférica ou criogênicos, equipamentos de processos e tubulações interligadas, incluindo redes de distribuição de produtos4.
Em relação a natureza aos efeitos físicos primários podem ser classificados como térmicos ou mecânicos. Incêndio em nuvem seguido de liberação de material inflamável pode levar o equipamento ao colapso e um jato de fogo pode levar a explosão do tanque. Por outro lado, efeito secundário pode ser classificado como térmico, mecânico ou tóxico4.
Você se lembra?
Aprendendo com a experiência
Você sabia que o acidente ocorrido na planta de etileno em Priolo na Itália em 19 de maio de 1985 é um exemplo do fenômeno efeito dominó?
Estima–se que o acidente causou uma perda de U$ 137 milhões de dólares (na época) e a planta permaneceu fechada por aproximadamente um ano. Não houveram fatalidades, uma vez que a unidade foi evacuada rapidamente5.
Acredita-se que o acidente tenha sido causado por uma falha na instrumentação do reboiler de uma coluna de destilação. Isso levou ao aumento da temperatura ativando uma válvula do sistema de alívio. A vibração da válvula de alívio levou a liberação de gás inflamável a partir do flange. A ignição do gás produziu um jato de fogo que aumentou de proporção devido à liberação de um gás a partir de um tubo perfurado. O jato de fogo, por sua vez, atingiu uma tubulação de maior diâmetro, localizada a uma distância de 16 m que continha etileno e estava conectada a outra coluna de destilação. Uma bola de fogo foi produzida, seguida por outro enorme jato de fogo5.
Confira abaixo o resumo do efeito dominó desse acidente:
Figura 1. Resumo do efeito dominó do acidente Priolo na Itália
O que as estatísticas nos mostram
Historicamente, os incidentes envolvendo o efeito dominó estão relacionados a operação de produtos inflamáveis, 89% dos casos, conforme apresentado na figura 2. Além disso, dentre os incidentes analisados, foi verificado que explosões e incêndios são as principais causas primárias do efeito, 57% e 43% respectivamente (Figura 3). Portanto, se sua unidade produtiva manuseia produtos inflamáveis, existe a possibilidade de ocorrência do fenômeno. Assim, torna-se necessário realizar uma análise de risco para estudar os possíveis cenários em que esse tipo de acidente potencialmente pode ocorrer2.
Figura 2. Tipos de acidentes primários que historicamente dão início ao efeito dominó
Figura 3. Tipo de substâncias perigosos envolvidas nos evento de efeito dominó em indústrias de processos químicos
Importância de uma Análise de Quantitativa de Risco para o Efeito Dominó
O que é Análise Quantitativa de Risco?
De acordo com o CCPS, AQR é o desenvolvimento sistemático de estimativas numéricas da frequência esperada e/ou consequência de potenciais acidentes associados com a instalação ou com a operação baseada em avaliação de engenharia ou técnicas matemáticas6.
Após a realização de uma HAZOP ou APP, no qual foi identificado na matriz de risco um cenário NÃO ACEITO ou MODERADO , para um caso de efeito dominó, torna-se necessário a realização de um estudo quantitativo. O objetivo é realizar um estudo criterioso dos cenários críticos susceptíveis a propagação de um incidente na unidade ou em instalações vizinhas, e a partir disso, prever um sistema de segurança de processo e emergência adequados para a situação.
A Diretiva Seveso I já reconhecia a importância da avaliação do efeito dominó, requerendo um estudo sobre o fenômeno para as unidades que estavam submetidas a esta legislação. A Seveso II já foi mais abrangente com relação a este tema, requerendo uma análise do efeito dominó para as unidades vizinhas, não apenas para a planta em questão2.
Então, Reflita
A sua unidade realiza Análises Quantitativas de Risco considerando a possível ocorrência de um efeito dominó? Ou a avaliação do efeito dominó é limitada a análise qualitativa de alguns casos representativos?
Qual tipo de acidente potencial sua unidade é susceptível a causar outro acidente ainda mais grave?
Referências:
[1] American Institute of Chemical Engineers. Center for Chemical Process Safety. (2000).Guidelines for chemical process quantitative risk analysis (Vol. 1). Wiley-AIChE. [2] Abdolhamidzadeh, B., Abbasi, T., Rashtchian, D., & Abbasi, S. A. (2011). Domino effect in process-industry accidents–An inventory of past events and identification of some patterns.Journal of Loss Prevention in the Process Industries, 24(5), 575-593. [3] Bozzolan, J. C. (2006). Um estudo sobre o efeito dominó em instalações do ciclo do combustível nuclear (Doctoral dissertation, Universidade de São Paulo). [4] Casal, J. (2007).Evaluation of the effects and consequences of major accidents in industrial plants (Vol. 8). Elsevier. [5] MARSH & MCLENNAN COMPANIES (2016). The 100 Largest Losses 1974 – 2015. [6] CCPS (2014). Diretrizes para Segurança de Processo Baseada em Risco. 1 ed. Rio de Janeiro: Interciência.